domingo, 28 de setembro de 2008

ANÁLISE INTERTEXTUAL ENTRE “VIDAS SECAS” DE GRACILIANO RAMOS E “ABRIL DESPEDAÇADO”

[trabalho escolar de português, matéria ministrada pelo professor José Alexandre no CEFET MT, no qual eu ganhei nota máxima e um muito bom...].
Rap das almas secas – Desirêe Galvão
O professor
Vê se presta atenção,
Não que você já não saiba
Não vai ter embromação.

O que acontece
É que agora é a minha hora
Vou contar duas histórias
Todas dentro do sertão.

Tanto em uma como em outra,
Confundindo no cenário
As pessoas viram seca,
Esse valor é hereditário.

A primeira é um abril despedaçado
De um menino que não tem nome nenhum.
Uma rixa sem fim, por uma terra sem fins,
Onde a aridez leva os homens queridos,
Pela honra que escorrega entre os galhos da mão.

Até um dia em que um circo viajante
Carrega o objeto de toda a libertação.
Ele traz um certo livro que liberta o menino
Do reduto onde era prisioneiro
Do lugar que nunca pertenceu.

E o tempo vai passando
Sangues, em camisas, amarelando,
Demarcando um tempo primitivo
Um tempo inexistente, um tempo incoerente.
Atemporal

O menino é batizado por um nome,
É de bicho, mas ainda é um nome.
Ganha nome, porque ganha o direito
De interferir na história, e salvar o seu irmão.

Pacu, o menino, ensina Tonho a sonhar,
Ele ensina Tonho a voar em seu balanço,
Com isso ele perde seu veículo para os sonhos
Pois Tonho é pesado de mais, acaba estragando o brinquedo.

A chuva chega, lavando e acabando com o ciclo.
Pacu toma o lugar de tonho, morre heroicamente.
Cede ao irmão os sonhos e a vida
Cede o horizonte.
Mas, a pacu, o mar é concedido,
o seu maior sonho, sua estória.

O pai dessa primeira não se conforma
Ele é como um boi da bolandeira
Acostumado a um ciclo, a sofrer...
Não vê outro caminho, alienado por uma tradição,
Talvez para ele a chuva nunca chegue.

A segunda é de vidas secas como a primeira
Há crianças sem nome, não há circo,
Nem livro nem balanço,
A elas, não há o direito de interferência,
Pois a elas, o destino é o ciclo,
O destino à bolandeira.

A cachorra desta história
É gente que nem a gente
Teve a sorte de morrer, assim como pacu,
Pois em ambas as historias,
Só se chega ao sonho dessa forma.

A seca, seca o vocabulário das famílias...
Ambos os pais são enganados, frustrados;
Subserviente, secos em sentimentos.

Em um ciclo onde há seca de cultura,
Onde a seca, seca também toda a vida,
Faz com que todas as pessoas sejam apenas extinto,
Zoomorfica todo resto de humano,
Que ainda insiste em brotar.
Seca.

Torna as pessoas fruto de seu meio,
Neste caso, de que meio não tem nada,
Tem de inteiro e de todo e de em volto.

Todos na história sonham,
Todos na história desejam
Apenas um em cada história realiza
Estes morrem para isso.

Personagens sofridas
Que vão perdendo pouco a pouco,
O pouco que possuem,
A honra, a terra, a família.
Vidas despedaçadas.